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quinta-feira, 17 de março de 2011

Isaac Newton – o melhor publicitário fumante do mundo

Foi assim, uma amiga minha me chamou para sair e eu fui. Chegamos em um lugar cheio de gente jovem, cheio de gente cabeluda, cheio de gente de tênis, cheio de tudo quanto é tipo de gente. Fiz um esforço para achar legal o local e não ligar para tanta fumaça de cigarro e não implicar com menininhas mexendo no cabelo o tempo inteiro.

Mas não deu. Dolorida, minha coluna me obrigou a sentar e sentada fiquei observando todos. Tossia e abanava a fumaça que vinha de um cigarro por ali, até que surge um simpático ser na minha frente e me pergunta: você fica sempre caladinha assim?

Acontece que eu tenho disso mesmo, de ficar calada observando as pessoas e pensando coisas sobre elas. Mas eu disse calmamente que minhas pernas estavam doendo.

Insatisfeito com meu pouco caso, ele se abaixou e me deu três beijinhos: smack, oi, smack, qual o seu nome? Smack. Virou para o lado, acendeu um cigarro, soltou uma fumaça fraca e sorriu esperando a resposta.

- Carol é meu nome.

Tendo certeza de que eu apenas tinha dor nas pernas, o fumante fedido resolveu perguntar sobre minha profissão.

- Formada em Publicidade, Publicitária é minha profissão.

E então o terror começou.

- Sério? Eu formei em Propaganda e Marketing e blá blá, fiz pós em Finanças blá blá, morei três anos em Londres, cidade muito boa. Londres é ótima, eu trabalhei nas maiores empresas de publicidade de Londres, morando em Londres. Depois quis ficar mais próximo da minha família e mudei pra São Paulo. Uberlândia não tá com nada, São Paulo tá com tudo.

(O que é isso na boca dele, herpes?)

- São Paulo me fez amadurecer, ganhei muito dinheiro em São Paulo, São Paulo é grande. Meu currículo é muito bom. Mas eu quis ficar mais perto ainda da minha família, por isso vim pra Uberlândia. Sou dono de uma empresa ótima de Uberlândia, cidade de mercado ruim, presto consultoria de marketing. Blá, blá. Sou muito bom no que faço, entende?

(Que bosta.)

- O que você acha daquele outdoor ali? Faltou algo, cara. Faltou, algo. UFU não pode ter foto de gente daquele jeito em propaganda, cara. Em São Paulo trabalhei com gente boa mesmo, ia matar esse outdoor aqui, cara.

Tentei mudar o foco do assunto inventando uma história:

- Morei em São Paulo também, com 14 anos. Morava com duas garotas de programa e sofri muito lá, pois eu era nova e via muitas coisas em casa.

- Garota de programa? Nossa, cara. Mas São Paulo é o que há na publicidade brasileira. São Paulo trás oportunidades.

Resolvi ficar de pé. O cara não parava de falar e meu pescoço estava doendo de tanto olhar pra cima.

- Nossa, como é seu nome mesmo, vamos pra outro lugar? Sei de lugares melhores que aqui. Tô indo com amigos meus, vamos?

- Carol é meu nome e eu vou ficar aqui mesmo.

- Paia, cara. Você tem que ver Londres. Londres tem um monte de lugar pra ir, Londres é legal. Londres a gente aprende muito de propaganda. Blá blá blá.

(Help me, God!)

- Tá legal. Sua vida é muito legal. Você é o máximo.

- Haha, obrigado, Carol. Vamo pra lá comigo e meus amigos?

O fumante falante e fedido de herpes na boca não calava por nada, por patada nenhuma. Sofrida, apelei que não ia quando um cigarro aceso encostou em mim.

- Não vou, fumante. Não vou!

- Ah, que isso. Eu to parando de fumar, sabe. Na verdade eu nem fumava, eu havia parado. Mas voltei só de vez em quando...

- Tá bom. Fumante.

- Me dá seu telefone?

Inventei um número e disse que:

- Pode ligar amanhã. Amanhã a gente vai lá onde você quer ir.

E lá se foi o sujeito com sua turma, seus cigarros e tagarelando. Aliviada, sentei e voltei a observar, até que de repente ele volta.

- Anota meu número aí também, aí você pode me ligar hoje se quiser.

E falou o número que não me lembro mais (infelizmente, senão eu postaria aqui para vocês ligarem!). E disse:

- Ah, meu nome é Isaac. Tipo o grande cientista, Isaac Newton. Sabe como que escreve ou preciso soletrar?

- Claro que sei Y-S-A-C-K N-I-L-T-O-N. Já anotei.

Com cara de espanto, o chato disse:

- Não é assim, é com i no começo. Mas deixa pra lá. Falou.

E me achando burrinha por não saber como é seu nome, deu as costas e sumiu.

5 comentários:

  1. "E falou o número que não me lembro mais (infelizmente, senão eu postaria aqui para vocês ligarem!)"

    kkkk kkk kkkk kkk
    Eu fico imaginando sua cara de paisagem.

    E o pior de tudo: Deve ser alguém que eu conheço. hahahah

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  2. Vem pra St. Louis, é muito legal. Aprendi bastante sobre propaganda aqui, cara.

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  3. Conversar com coisas assim é uma das desvantagens de ser mulher nos dias de hoje né... coitada. Ao menos vc consegue colocar essa fumaça toda pra fora em forma de texto e fazer a gente rir do Ysack Nilton. Hahahahahah!

    Parabéns! É assim mesmo!
    Força garota, seus pulmões aguentam!

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  4. Conversar com coisas assim é uma das desvantagens de ser mulher nos dias de hoje né... coitada. Ao menos vc consegue colocar essa fumaça toda pra fora em forma de texto e fazer a gente rir do Ysack Nilton. Hahahahahah!

    Parabéns! É assim mesmo!
    Força garota, seus pulmões aguentam!

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  5. Podia ter jogado uma maçã na cabeça dele :)

    Gostei do blog! Genial!

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